RIP

E o mundo ficou um pouco menos pervertido... e divertido...

Giraldo, manda cumprimentos ao Hicks, ao Kinison e ao Carlin...

Voltámos ao Activo

A pedido de várias pessoas sem família e com pouco interesse em ter uma, é com muita preguiça que regressámos ao mundo blogosférico. Neste tempo todo, não paramos de expor as nossas vísceras por este mundo quadrado. Também trabalhámos. Um pouco. E logo fomos de férias. Um muito. E agora, voltámos. Um assim assim. Aguardem por novos posts.

Ps (como quiserem, com D ou sem D, vai dar ao mesmo): estamos cagando para o novo acordo pornográfico ou lá como se diz...

Reflexo (de um anónimo)

Aguardo a hora em que me digam o nome. O meu nome. Próprio. A espera vai ser longa. Escuto as vozes da discussão pela janela. Eles me podem ver. Eu, oiço-os. Os vidros fumados.
Depois da explosão fomos poucos os que ficámos. As nossas caras mudaram. Não nos reconhecemos. Perdemos uns aos outros. Ficamos sem unhas. Sem os dentes molares. As pestanas. Perdemos os relógios. Ganhámos tempo. De nada nos serve. Esperámos em salas como esta. Eles, podem nos ver. Através dos vidros fumados. Aqueles que ainda conseguem, ouvem. Vejo o que resta. Um corpo. Sem roupa. Sem unhas. Sem dentes molares. Sem as pestanas.
Era um dia como outro qualquer. Como este. Mas com roupa. Limpava a cera dos olhos. Escovava os dentes. Cortava as unhas. Uma mulher gritou o meu nome. O espelho partiu. Houve uma explosão. Deixámos de nos reconhocer.
Sonhei-te, 15 anos atrás, muito antes de te conhecer.
Sonhei-te, senti a tua ausência durante 15 anos.
Temos tempo. O tempo chegará. Quando eu tiver nome. O tempo vai chegar. Vai sobrar. Se me chamares, eu vou. Direi que sim. Sem pestanejar.
Silêncio. A discussão terminou. Acabaram-se as palavras. Sobra a minha imagem. Eles conseguem me ver. Através dos vidros fumados. Não me reconheço. Não sei quem é. Esqueci-me o nome. Perdi-o.
O meu nome é o grito que acompanha as tuas lágrimas perdidas.
O meu reflexo, nos vidros fumados, esfuma-se.

Nuri Bilge Ceylan, o "mago" turco











Logo, e com mais tempo, dedicaremos um post mais completo ao fotográfo e realizador ("Climas", "3 Macacos", etc) turco Nuri Bilge Ceylan. Para já, disfrutem de algunas das suas imagens. Para verem mais, podem o fazer aqui.

Deus, a ideia

“...que se imagine o mundo deserto de seres humanos pela infinidade do tempo. A vida sem homens é exactamente a mesma. Com a risível e enorme diferença de haver com eles quem o saiba. E é só nessa diferença que Deus abre o seu espaço para nele se instalar. Retira-lhe esse espaço e verás como ele fica sem ter para onde ir.”

Pensar, Vergílio Ferreira


I

Ó Deus!

Criaste um filho inconsciente

E gente que o quer saber à força

No calor claustrofóbico dos dias.

Pensas demasiado meu Deus.

Por vezes, o melhor engenho é estar-se quieto.

II

Já não te completas meu Deus!

Já não te bastas.

És mais inócuo e vazio

Do que alguns dos meus dias.

Enches corações

Que se enchem sem ti.

És tu a mais empedernida existência,

A mais doente.

III

Deus,

Foste criado para seres destruído,

Aniquilado, tal como eu.

Serás nada!

Serás a melhor imagem do vazio.

Come To Daddy, o videoclip como imagem onírica

É isto que acontece quando se junta um dos mais perturbadores criadores de música dos últimos anos a um verdadeiro "criador" de imagens. Como é interessante e revelador perceber que os videoclips musicais são a linguagem audiovisual mais interessante da última década. Como disse uma vez um grande poeta colombiano: "o cinema passou rapidamente de mudo a cego...". Mas os vídeos de Cunningham e de outros mestres do videoclip (Gondry, Spike Jonze, Glazer, Sednaoui, Corbijn, etc), devolvem-nos um imaginário e uma capacidade onírica há muito perdida nas linguagens audiovisuais.

No princípio era o Verbo

Acreditar. Até ao fim. É uma forma de não ver. Não veremos. O que vemos, escandaliza. Arranquemos o olho. O principal orgão reproductor. Que nos traduz. Na tradução perdemos algo. O que é algo? Abstracto? Concretemos: são palavras. O mais abstracto. O mais burocrático. O intermédio. Entre nós, no meio de nós. As palavras. Acreditemos nas palavras. Com qualquer dos sentidos. De olhos fechados.

A Resposta Certa No Momento Certo

Era a ressaca aos yuppies... Era o fim do "hippismo" (também bastante ressacado)... O mundo esperava depois do meio vazio dos 80s (meio, porque não nos podemos esquecer dos Joy Divison, de Nick Cave, dos Sonic Youth, dos Cure, dos Pixies, Smiths, e afins) uma voz que fosse mais um grito; e esse grito veio do nada, do sítio menos esperado (mas donde mais poderia vir?), de uma pequena aldeia perto de Seattle... Logo venderam a alma ao Diabo mas já tinham mudado o mundo... Nem mais, nem menos: Nirvana, sem vergonha e sem euforia. Apenas com um grito. E que grito!

Neste vídeo, os Nirvana em playback* no mitico(?) Top of the Pops...





*não podendo tocar a música ao vivo, os Nirvana aceitaram tocar em playback, desde que Kurt Cobain pudesse cantar ao vivo... e assim foi... com palminhas dos meninos e meninas...