Voltámos ao Activo
Reflexo (de um anónimo)
Depois da explosão fomos poucos os que ficámos. As nossas caras mudaram. Não nos reconhecemos. Perdemos uns aos outros. Ficamos sem unhas. Sem os dentes molares. As pestanas. Perdemos os relógios. Ganhámos tempo. De nada nos serve. Esperámos em salas como esta. Eles, podem nos ver. Através dos vidros fumados. Aqueles que ainda conseguem, ouvem. Vejo o que resta. Um corpo. Sem roupa. Sem unhas. Sem dentes molares. Sem as pestanas.
Era um dia como outro qualquer. Como este. Mas com roupa. Limpava a cera dos olhos. Escovava os dentes. Cortava as unhas. Uma mulher gritou o meu nome. O espelho partiu. Houve uma explosão. Deixámos de nos reconhocer.
Sonhei-te, 15 anos atrás, muito antes de te conhecer.
Sonhei-te, senti a tua ausência durante 15 anos.
Temos tempo. O tempo chegará. Quando eu tiver nome. O tempo vai chegar. Vai sobrar. Se me chamares, eu vou. Direi que sim. Sem pestanejar.
Silêncio. A discussão terminou. Acabaram-se as palavras. Sobra a minha imagem. Eles conseguem me ver. Através dos vidros fumados. Não me reconheço. Não sei quem é. Esqueci-me o nome. Perdi-o.
O meu nome é o grito que acompanha as tuas lágrimas perdidas.
O meu reflexo, nos vidros fumados, esfuma-se.
Nuri Bilge Ceylan, o "mago" turco




Logo, e com mais tempo, dedicaremos um post mais completo ao fotográfo e realizador ("Climas", "3 Macacos", etc) turco Nuri Bilge Ceylan. Para já, disfrutem de algunas das suas imagens. Para verem mais, podem o fazer aqui.
Deus, a ideia
“...que se imagine o mundo deserto de seres humanos pela infinidade do tempo. A vida sem homens é exactamente a mesma. Com a risível e enorme diferença de haver com eles quem o saiba. E é só nessa diferença que Deus abre o seu espaço para nele se instalar. Retira-lhe esse espaço e verás como ele fica sem ter para onde ir.”
Pensar, Vergílio Ferreira
I
Ó Deus!
Criaste um filho inconsciente
E gente que o quer saber à força
No calor claustrofóbico dos dias.
Pensas demasiado meu Deus.
Por vezes, o melhor engenho é estar-se quieto.
II
Já não te completas meu Deus!
Já não te bastas.
És mais inócuo e vazio
Do que alguns dos meus dias.
Enches corações
Que se enchem sem ti.
És tu a mais empedernida existência,
A mais doente.
III
Deus,
Foste criado para seres destruído,
Aniquilado, tal como eu.
Serás nada!
Serás a melhor imagem do vazio.
No princípio era o Verbo
Acreditar. Até ao fim. É uma forma de não ver. Não veremos. O que vemos, escandaliza. Arranquemos o olho. O principal orgão reproductor. Que nos traduz. Na tradução perdemos algo. O que é algo? Abstracto? Concretemos: são palavras. O mais abstracto. O mais burocrático. O intermédio. Entre nós, no meio de nós. As palavras. Acreditemos nas palavras. Com qualquer dos sentidos. De olhos fechados.
A Resposta Certa No Momento Certo
Neste vídeo, os Nirvana em playback* no mitico(?) Top of the Pops...
*não podendo tocar a música ao vivo, os Nirvana aceitaram tocar em playback, desde que Kurt Cobain pudesse cantar ao vivo... e assim foi... com palminhas dos meninos e meninas...