Esta espécie: Nós Humanos

É ridícula a nossa necessidade de transformarmos as pessoas de que gostamos em lixeiras. Em alturas que nos são adversas servimo-nos dessa gente para depositarmos todo o nosso lixo, isto, sem sequer pedirmos autorização para descarregarmos toda a merda que somos.
Quando nos sentimos mais perdidos, quando a dificuldade de enxergarmos no horizonte um futuro promissor aumenta e o presente deixou se ser satisfatório, temos tendência a reparar mais na sujidade dos outros, talvez por nos estarmos a banhar na nossa própria imundice. Os excrementos que outrora observávamos nos outros e que achávamos vulgares, banais e insignificantes alcançam o estatuto de lixe urbano quando a nossa capacidade de consciencialização se encontra debilitada ou é quase nula.
Mais grave ainda é sermos impotentes em relação a este facto, pois, por mais que nos aguemos, que nos lavemos com os mais eficazes desinfectantes, nunca conseguiremos ficar completamente imaculados. O lixo está demasiado entranhado em nós, até parece ser inato (não é?). Por vezes, é demasiado doloroso tentar desfazermo-nos dele, tem que se raspar a pele com palha de aço. Pior!, ele, mesmo assim, não desaparece, apenas deixamos de o ver durante algum tempo.
É triste esta condição de porcos sebentos que navegam por mares de lama tentando descobrir donde é que ela vem, sem se preocuparem para onde vão. Louvada seja a água cândida que cai do céu! (e eu acho que nunca choveu). Até essa água já esta contaminada com o vossa ignomínia, com a vossa indignidade, com o vosso lodo (e eu nunca vi água cristalina).
Repugna-me só beber água turva e sumo insípido, aliás, estou cansado de ter que beber. Comida? Já só como o necessário, deixei de dar ilusões, em forma de bombons, ao estômago. Já não mato porcos para comer, deixei de ser canibal (isso é um vício, não é luta pela sobrevivência).
Sei que sobrevivo, alimento-me da minha banha, lavo-a, limpo-a e como-a!

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